terça-feira, 7 de junho de 2011

INTRODUÇÃO A EPÍSTOLA DE JOÃO

Introdução.


Conforme se diz, o Evangelho de Lucas é a mais bela obra literária da Bíblia. Neste caso, o quarto Evangelho é a mais sublime. Não é sobrepujado devido as suas duas qualidades: a devocional e a teológica.

Nenhum outro livro levou tantas pessoas a Cristo e inspirou tanta a segui-lo. Ao mesmo tempo, anos de intenso estudo teológico critico levam a se reconhecer que há ainda profundezas não explorada de pensamentos que sempre chamarão o estudioso à continua admiração diante do profundo conteúdo desse Evangelho.

Aqui a teologia foi colocada em termos tais, que até uma criança pode compreender a visão da grandeza do amor de Deus, como mostrado em Jesus. Ao mesmo tempo, esses termos simples são usados para expressar um dos quadros mais empolgantes da realidade última encontrada em toda esta literatura.


O Evangelho segundo João

Autoria.

Os estudiosos modernos estão longe de concordarem acerca da identidade do autor do quarto Evangelho. Na realidade, em sua incapacidade de aceitar qualquer identidade do autor, eles advogariam que a autoria deste Evangelho importa mito pouco. Diz-se que a coisa de maior importância não é tanto quem escreveu, mas o que foi escrito.Embora haja algo nisto, o assunto da autoria não é sem importância.

Se se pode estabelecer, com certo grau de certeza, que uma testemunha apostólica ocular estar por traz deste Evangelho, ele assume certo valor. Se, contudo, ele foi escrito por alguém no segundo século que jamais viu as coisas lá relatadas nem viu o Senhor Jesus em carne, então a coisa muda de figura. Se tivermos de dar credito às coisas que estão escritas, queremos sentir-nos seguros de que o autor é fiel quando afirma “e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai” (Jo 1.14).

Alguns diriam que João, um dos doze, estar por traz da tradição, mas não foi o autor. Outros diriam que certo João, o ancião, que viveu em Éfeso no final do primeiro século, escreveu esse livro. Outros nomes foram sugeridos, entre eles estão João Marcos, Lazaro e até mesmo um João desconhecido. Os estudiosos conservadores, da Europa e das Américas, mantêm que há evidência suficiente para dizer-se, com alguma certeza, que João, o filho de Zebedeu, foi o autor. Alguns concederiam que João tenha usado um amanuense para a composição real, mas que João está por trás da obra.

Evidências externas.

Para a igreja primitiva, todavia, há praticamente uma linha ininterrupta de testemunho de que João, o filho de Zebedeu, é o autor. Um testemunho de peso é o de Irineu devido uma pessoa somente o ligava a João, o qual era Policarpo. O testemunho de Irineu é ainda mais fortalecido quando se reconhecem que todos subseqüentes a ele supõe, sem duvida, que João, o filho de Zebedeu, é o autor ( Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes etc ). Alguns evangelhos apócrifos, tais como o Evangelho de Felipe, o Apócrifo de João e o Evangelho de Tomé, todos pressupõem o quarto Evangelho como tendo autoridade e sendo bem conhecido, e dizem que João, o filho de Zebedeu, é o autor.


Evidência interna.

Westcott encontra evidência interna para substanciar varias declarações. Ele declara que o autor do quarto Evangelho foi um judeu. Esta conclusão é baseada em sua familiaridade com os costumes judaicos. A forma do quarto Evangelho, no tocante ao vocabulário, estrutura das orações, simetria e simbolismo numérico da composição, e a expressão e disposição dos pensamentos, é essencialmente hebraica. Também é mantido que o A.T. é a fonte da vida religiosa do autor.

Ele esta inteiramente familiarizado com a topografia de Jerusalém e com a adoração no templo. Isto teria sido impossível para qualquer pessoa depois da destruição de Jerusalém.

A conclusão natural, em sua serie de pensamentos, é que o autor deste Evangelho foi o Apostolo João. Nas narrativas dos sinópticos havia três discípulos que estavam, num sentido especial, próximo de Jesus. Eram Pedro e os filhos de Zebedeu, Tiago e João. Há uma indicação de que um destes três foi o evangelista. Pedro não precisa ser considerado, devido à falta de qualquer indicação ou associação de seu nome com esse Evangelho. Tiago foi martirizado cedo, e não há nenhuma ligação de seu nome com este Evangelho na tradição da igreja. Também o apêndice do capitulo 21 pareceria eliminar ambos, Pedro e Tiago. Só resta portanto João; ele satisfaz completamente as condições necessárias de serem satisfeitas pelo escritor, de que ele devia está em estreita ligação com Pedro, e que também era uma pessoa admitida na intimidade peculiar com o Senhor”.


Data.

Houve tanta controvérsia sobre a datação do quarto Evangelho quanto houve sobre a autoria. Foram sugeridas datas, que variam desde o começo da vida da igreja militante até o final do primeiro século.

Hoje é opinião quase comum que João foi escrito na última década do primeiro. Mas nem todos os estudiosos concordam com essa datação tardia do quarto Evangelho.

John A.T. Robinson (uma nova datação para o N.T.) argumenta mui forçosa e convincentemente, em favor de uma data anterior a 70 d.C. devido a ausência de uma referencia explicita ao acontecimento mais importante do primeiro século depois da ressurreição de Cristo. Esse acontecimento foi a destruição de Jerusalém e do templo pelos romanos, sob Tito, em 70 d.C. A mim me aparece que a conclusão mais provável é que João escreveu antes da época da destruição de Jerusalém e a referência contida em João 21:24 foi acrescentada na época de sua apresentação pública em Éfeso. Esta me parece ser a conclusão mais lógica, após examinar a evidência embaraçosa e contraditória dos escritores cristãos primitivos.

Local.

O irresistível testemunho da igreja primitiva é que o quarto Evangelho foi escrito em Éfeso, Ásia, Irineu afirmou que o discípulo que se recostara sobre o peito de Jesus publicou um Evangelho durante sua residência em Éfeso, e uma vez que Irineu foi um discípulo de Policarpo (que era um seguidor de João, o filho de Zebedeu), este é o local mais provável da composição do quarto Evangelho.

Fontes.

Em virtude de ter sido demonstrado que os Evangelhos Sinópticos tiveram acesso, seja a fontes orais ou escritas, em sua composição, foi suposto que isso também é verdadeiro relativamente ao quarto Evangelho.

Por ter sido o ultimo dos evangelistas, ele deve ter conhecido os sinópticos, essa era a opinião mais aceita até então. Mas já há um movimento de distanciamento da dependência, da parte de João, dos Sinópticos.

O livro que merece mais atenção nesse movimento apareceu em 1940, escrito por H. E. Dana ( A tradição de Éfeso). Ao comparar os quatros Evangelhos, Dana constatou que parece ter havido duas tradições orais paralelas, que se originaram na Palestina. Uma veio da Galiléia e a outra da Judéia. Dana procurou mostrar que Marcos e Mateus preservaram a tradição galiléia, Lucas tem uma mistura de ambas tradições, da galiléia e da Judéia, e João é basicamente da Judéia.

A critica literária chegou a conclusão que, enquanto se torna duvidosa a identificação clara das fontes, produz-se alguma evidência de que o autor realmente usou fontes e que ele mesmo as escreveu. O evangelista extraiu de fontes orais independentes e originais que não estão, na maior parte, ligado ás fontes dos Sinópticos. Há grande evidencia em favor do ambiente palestino para esta tradição, e, mais uma vez, podemos voltar à crença de que João, o filho de Zebedeu, um dos Doze, está por trás do Evangelho escrito.

Unidade.

Quarto Evangelho dá a impressão geral de uma única unidade, um todo. Contudo, a própria possibilidade de fontes levou alguns críticos a fazerem teorias acerca das seções de narrativa que se encontra deslocadas. É sugerido que ou o redator errou ao conferir seu material ou talvez algumas das folhas dos manuscritos foram “deslocadas” entre o tempo da escrita e a publicação de nossa copia mais antiga deste Evangelho. A isso são acrescentadas teorias acerca de material disparatado no corpo do Evangelho. Os estudiosos modernos não mais consideram seriamente a idéia acerca de folhas erroneamente localizadas, por causa da própria natureza dos materiais de escrita do primeiro século. Com esta teoria, não mais em voga, as outras ficam de pé quanto à validade da teoria.

O Evangelho inteiro, como ele está agora, tem um sentido de continuidade que pode bem mostrar a intenção original do autor. As transposições de versos selecionados terminam em exercícios de futilidade.

Quanto ao método literário, não há nenhuma tentativa de elegância de expressão; mas, por toda simplicidade de apresentação, seu grego jamais é impreciso. Esta simplicidade conjugada, entretanto, à precisão, levou à conclusão de que o grego não era a língua nativa do autor.

A habilidade literária de João pode ser vista na maneira em que ele moldou suas fontes em uma estrutura unificada, girando em torno do tema central, “para que continueis a crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus” (20:31).

A primeira divisão de João também foi denominada o “livro dos sinais”. Sente –se que, de algum modo, a estrutura de João é construída em torno de milagres realizados por Jesus. Neste Evangelho, a palavra para milagre tem a significação de algo que acontece no mundo físicos dos sentidos, contudo, tendo uma significação espiritual, um evento na história usada para ensinar uma verdade espiritual. Os milagres são os sinais visíveis, que apontam para a verdade invisível acerca daquele que é a verdade. Os sinais de Jesus quando recebidos pela fé, revelam a gloria de Deus, porque eles são as obras de Deus.

Fundo histórico.

A literatura cristã não foi composta em um vácuo histórico. É importante conhecer o fundo histórico ou o ambiente no qual o autor viveu e trabalhou, a fim de estudar o significado de sua obra.

O judaísmo: que o autor escreveu a partir de uma herança judaica não mais está em debate. Dentro do próprio judaísmo havia várias divisões. Os estudiosos falam de judaísmo rabínico, sectário e helenístico. O judaísmo rabínico centralizava-se em torno da sinagoga. Os fariseus nutriam o estudo escrito do A.T. e a tradição oral que o cercava. Com a destruição de Jerusalém e do templo em 70 d.C. os rabis se tornaram lideres incontestáveis do judaísmo. Mais durante a época de Jesus e da formação da tradição do Evangelho, esses ensinos rabínicos ainda não haviam sido reduzidos à escrita, e nosso material escrito para comparação dos conceitos rabínicos e joaninos não são da mesma era.

É sugerido que João foi também produto do judaísmo sectário, que existiu antes do triunfo final do rabinismo. João mostra que ele sabia das esperanças apocalíptica dos judeus antes de estas esperanças terem sido destruídas na guerra judaica-romana.

Desde a descoberta dos Rolos do Mar Morto, em Qumran, nosso conhecimento acerca do judaísmo sectário foi grandemente ampliado. Ela revela alguns paralelos com o pensamento joanino. Antes da descoberta, era geralmente aceite que muita parte de João era um reflexo do cristianismo tardio.

O judaísmo helenístico é o resultado da interação do judaísmo com as influencias do helenismo. Filo de Alexandria, um contemporâneo de Jesus, era nascido judeu e fora criado numa cidade sob influencias helênicas tremendamente fortes, ele estava tão imbuído na filosofia grega, que naturalmente interpretou o judaísmo em termos helênicos. Filo representa aqueles judeus da era pré-cristã que estavam tentando encontrar pontos de contato entre a religião deles e a dos que os cercavam. Seus escritos tornam claros que muita coisa do que se conhece hoje acerca da filosofia grega, fora levada para dentro da comunidade judaica da diáspora. Por causa desse fato, os estudiosos modernos estão achando difícil sustentar a teoria de que João dependeu de Filo.

O gnosticismo-há pouca duvida de que o gnosticismo de alguma maneira tenha tido uma influência sobre o quarto Evangelho, mas é difícil de se determinar até que ponto. Outros dizem que a influencia é apenas indireta. Provavelmente, a maior controvérsia entre os escritores modernos seja definir os estágios de desenvolvimento do gnosticismo, os problemas da origem e graus de desenvolvimento durante o primeiro século.

No seu Evangelho, João mostra que Jesus exibiu muito dos traços humanos básicos: fome, sede, cansaço, emoção e um corpo que poderia sangrar quando ferido. Os manuscritos mais recentes estão mostrando, todavia, que o gnosticismo de João é aquele que nasceu no primeiro século e não vai além daqueles termos simples encontrados nos Rolos do Mar Morto.

Propósito.

O propósito declarado encontra-se em Jo 20.31. Mesmo com uma declaração direta como essa, foram escritos volumes acerca do propósito especifico do autor. Um dos problemas que intrigam e complicam na interpretação é a variação textual coma palavra “creiais”. Três das mais antigas testemunhas de manuscrito grego (sinaiticos, P 66 e vaticanus) e um importante manuscrito posterior (koridethi) tem o presente do subjuntivo (possais continuar ou continuem crendo), enquanto muitos dos manuscritos tem o subjuntivo aoristo ( possais começar a crer). O tempo aoristo sugere que o quarto Evangelho foi evangelistico quanto ao seu propósito e dirigido a não-cristãos. O tempo presente sugere que o propósito foi fortalecer a fé daqueles que já criam.

Se a ênfase parece estar dirigida à comunidade judaica, isso está em consonância com os métodos da proclamação primitiva cristã do Evangelho aos judeus primeiramente. Se existem elementos helênicos presentes no Evangelho, então está demonstrado que o autor escreveu aos judeus da diáspora.

Ponderação.

Autoria de João é muito discutida, mas para mim, eu não encontro dificuldades para crer que João filho de Zebedeu é o autor. Devido a afirmação de Jo 1.14 “ vimos a sua gloria como a glória do unigênito do Pai” já podemos eliminar candidatos como João o Ancião de Èfeso e outro João desconhecido ( figuras que mais rivalizam com o filho de Zebedeu ) por esses não terem visto O Mestre. Outra afirmação do livro “ o discípulo a quem Jesus amava” eliminam os demais candidatos ( João Marcos, Lazáro etc ).