COMO EU AMO A TUA LEI!
(Aprendendo sobre os mandamentos divinos)
... a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom (Rm 7:12).
A
palavra lei, de forma geral, faz referência as normas ou regras de vida, vindas,
geralmente, de uma autoridade. Neste sentido, quando tratamos de leis de Deus,
estamos nos referindo aos preceitos vindos de Deus para o seu povo. Estes
preceitos diziam respeito a todos os aspectos da vida dos israelitas. Eles
apontavam as diretrizes pelas quais o povo deveria se guiar. A lei estava entre
os bens mais valiosos dos Israelitas. Se guardassem com cuidado, seriam notados
pelas outras nações: ... pois assim os outros
povos verão a sabedoria e o discernimento de vocês. Quando eles ouvirem todos
estes decretos dirão: "De fato esta grande nação é um povo sábio e inteligente" (Dt 4:6 – NVI). Apesar desta enorme importância, precisamos lembrar que existem
diferentes tipos de lei no Antigo Testamento, e nem todas elas, embora
importantes para Israel naquele contexto, continuam validas para a igreja
cristã.
Por
exemplo, como podemos conciliar alguns textos bíblicos que dizem que a lei de
Deus foi anulada com outros que dizem que ela continua vigente? O mesmo
apóstolo Paulo, que disse que Jesus aboliu,
na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças (Ef 2:15), disse
que a lei é santa; e o mandamento, santo,
e justo, e bom (Rm 7:12). Partindo do princípio de que a Bíblia não se
contradiz, é claro que estes textos não estão tratando da mesma lei e que
existe mais de uma categoria de leis. Pelo menos três categorias são mostradas
na Bíblia. Veremos quais a seguir.
Em
primeiro lugar, temos as leis civis. As
leis civis são aquelas que regulamentam a vida dos cidadãos entre si, dentro de
uma comunidade (nação, Estado). O povo de Israel, como nação, não podia fazer o
que bem queria, quando queria e da forma que queria. As leis civis abrangiam
questões relativas ao tratamento dos escravos (Êx 21:1-11); à violência e aos
acidentes (21:12-32); ao direito de propriedade (Êx 21:33-22:15); e ao descanso
da terra (Êx 23:10-11), dentre outras. A Bíblia diz, por ocasião da criação das
leis civis: Estes são os estatutos que
proclamarás a eles (Êx 21:1). Moisés serviu apenas como proclamador desta
lei, que foi dada por Deus. Elas são: leis
do Senhor (Dt 11:26-28). Cada uma dessas ordenanças reflete a justiça de
Deus. De alguma forma, todas são fundamentadas nos dez mandamentos, a lei moral
de Deus, pois existem princípios morais envolvidos em cada um destes preceitos
civis. As leis civis apresentadas na Bíblia são aplicações da lei moral à
sociedade israelita. Então, por isso, podemos afirmar que a “lei moral
permanece, a aplicação dada a ela na sociedade israelita, não”.[1]
Em
segundo lugar, temos as leis rituais.
Se, por um lado, as leis civis regiam a forma com que os israelitas deveriam
comportar-se diante da sociedade, por outro, as leis rituais (ou cerimoniais)
mostravam como eles deveriam se apresentar diante do Senhor. Elas
regulamentavam a adoração de Israel. Cuidavam mais da exterioridade da vida
religiosa. Podemos encontrar as leis rituais nos livros de Êxodo, Deuteronômio
e, principalmente, no livro de Levítico, que é um manual de cerimônias, regras
e deveres sacerdotais. Apesar de serem chamadas de “leis de Moisés”, em algumas
passagens bíblicas (Js 8:31; Ed 3:2), as leis rituais foram dadas pelo próprio
Deus. Ele apresentou esses preceitos à nação israelita, com o fim de guiá-la em
sua fé no Messias. Essas leis apontavam para a vinda do Messias. Todavia, por
serem tipológicos por natureza, cercados de símbolos e sinais que focavam a
obra do Messias, a vinda deste pôs fim a esses rituais. Com a vinda de Cristo,
as leis rituais perderam a sua validade, deixaram de ser obrigatórias para o
povo da nova aliança.
Os
autores do Antigo Testamento sabiam que as leis rituais ou cerimoniais apontavam
para uma realidade maior (cf. Sl
51:16-19; Os 6:6-7; Is 1:11; Jr 7:22-23; Mq 6:6-8). No Novo Testamento, elas
são chamadas de “sombras” (Cl 2:17; Hb 8:5; 10:1). Por essa razão, o ensino do
Novo Testamento sobre elas é claro: não são mais obrigatórias para a igreja.
Essa verdade pode ser vista em Efésios, em que lemos que, em seu corpo, Jesus desfez a inimizade, isto é, a lei dos
mandamentos contidos em ordenanças
(Ef 2:14-15 – grifo nosso). A lei mencionada aqui é a dos rituais. A frase
“mandamentos contidos em ordenanças” aponta nesse sentido. É importante
ressaltarmos que, apesar das leis cerimoniais terem sido abolidas, isto não
significa que elas não têm nenhum valor para os crentes. O uso delas foi
abolido, mas como apontavam para Cristo, retêm importância como uma ferramenta
de ensino para melhor entender a sua obra.
Em
terceiro lugar, temos a lei moral. A
lei moral de Deus é aquela que estabelece o padrão de conduta para todos os
homens e em todos os lugares; revela, de forma muito evidente, a vontade de
Deus, em termos de caráter e procedimento. A lei moral é um reflexo da natureza
e do caráter do próprio Deus. Sendo assim, é universal, indispensável e válida
para todos os homens, de todas as épocas e lugares; é imutável. Onde podemos
encontrá-la? Nos dez mandamentos (Êx 20:1-17). Elas prescrevem como deve ser o
nosso relacionamento com Deus: não terás
outros deuses diante de mim (v. 3), não farás
para ti imagem de escultura (v. 4a), não
tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão (v. 7a), lembra-te do sábado, para o santificar (v. 8); e com o próximo: honra teu pai e tua mãe (v. 12a), não matarás (v. 13), não adulterarás (v. 14), não furtarás (v. 15), não dirás falso testemunho (v. 16) e não cobiçarás (v. 17a).
A
lei moral foi dada em um contexto de graça, para um povo já liberto (Ex 20:2),
que não fora escolhido sem propósito. Israel foi alcançado para ser um povo santo
(Dt 7:6; 14:2, 21) e os mandamentos serviriam para orientá-los nessa
missão. A lei moral é a regra de vida
dos redimidos. Ela nunca teve por objetivo trazer salvação, mas contribuir no
processo de santificação. Foram dadas para que os filhos de Deus soubessem qual
era a sua vontade e pudessem andar de acordo com a mesma.
Assim
como a civil e a ritual, a lei moral foi dada por Deus (Êx 20:1). No caso da lei moral, a vinda de Cristo não a anula,
nem a remove. A validade dos dez mandamentos é contínua e a sua aplicação é
universal. Jesus, ao se referir a lei moral disse: Não penseis que vim destruir a
lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para cumpri-los. (Mt 5:17
– grifo nosso). Em Romanos também lemos: Anulamos
então a Lei pela fé? De maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a lei (Rm
3:31). Então, entre as três categorias de lei, a única que permanece é a moral.
PARA REFLETIR
01. O que significa a palavra “lei”? Quantas categorias de leis
existem na Bíblia?
02. Fale sobre a única categoria de leis que continuam vigentes?