quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

COMO EU AMO A TUA LEI!
(Aprendendo sobre os mandamentos divinos)

... a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom (Rm 7:12).

A palavra lei, de forma geral, faz referência as normas ou regras de vida, vindas, geralmente, de uma autoridade. Neste sentido, quando tratamos de leis de Deus, estamos nos referindo aos preceitos vindos de Deus para o seu povo. Estes preceitos diziam respeito a todos os aspectos da vida dos israelitas. Eles apontavam as diretrizes pelas quais o povo deveria se guiar. A lei estava entre os bens mais valiosos dos Israelitas. Se guardassem com cuidado, seriam notados pelas outras nações: ... pois assim os outros povos verão a sabedoria e o discernimento de vocês. Quando eles ouvirem todos estes decretos dirão: "De fato esta grande nação é um povo sábio e inteligente" (Dt 4:6 – NVI). Apesar desta enorme importância, precisamos lembrar que existem diferentes tipos de lei no Antigo Testamento, e nem todas elas, embora importantes para Israel naquele contexto, continuam validas para a igreja cristã.
Por exemplo, como podemos conciliar alguns textos bíblicos que dizem que a lei de Deus foi anulada com outros que dizem que ela continua vigente? O mesmo apóstolo Paulo, que disse que Jesus aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças (Ef 2:15), disse que a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom (Rm 7:12). Partindo do princípio de que a Bíblia não se contradiz, é claro que estes textos não estão tratando da mesma lei e que existe mais de uma categoria de leis. Pelo menos três categorias são mostradas na Bíblia. Veremos quais a seguir.    
Em primeiro lugar, temos as leis civis. As leis civis são aquelas que regulamentam a vida dos cidadãos entre si, dentro de uma comunidade (nação, Estado). O povo de Israel, como nação, não podia fazer o que bem queria, quando queria e da forma que queria. As leis civis abrangiam questões relativas ao tratamento dos escravos (Êx 21:1-11); à violência e aos acidentes (21:12-32); ao direito de propriedade (Êx 21:33-22:15); e ao descanso da terra (Êx 23:10-11), dentre outras. A Bíblia diz, por ocasião da criação das leis civis: Estes são os estatutos que proclamarás a eles (Êx 21:1). Moisés serviu apenas como proclamador desta lei, que foi dada por Deus. Elas são: leis do Senhor (Dt 11:26-28). Cada uma dessas ordenanças reflete a justiça de Deus. De alguma forma, todas são fundamentadas nos dez mandamentos, a lei moral de Deus, pois existem princípios morais envolvidos em cada um destes preceitos civis. As leis civis apresentadas na Bíblia são aplicações da lei moral à sociedade israelita. Então, por isso, podemos afirmar que a “lei moral permanece, a aplicação dada a ela na sociedade israelita, não”.[1]
Em segundo lugar, temos as leis rituais. Se, por um lado, as leis civis regiam a forma com que os israelitas deveriam comportar-se diante da sociedade, por outro, as leis rituais (ou cerimoniais) mostravam como eles deveriam se apresentar diante do Senhor. Elas regulamentavam a adoração de Israel. Cuidavam mais da exterioridade da vida religiosa. Podemos encontrar as leis rituais nos livros de Êxodo, Deuteronômio e, principalmente, no livro de Levítico, que é um manual de cerimônias, regras e deveres sacerdotais. Apesar de serem chamadas de “leis de Moisés”, em algumas passagens bíblicas (Js 8:31; Ed 3:2), as leis rituais foram dadas pelo próprio Deus. Ele apresentou esses preceitos à nação israelita, com o fim de guiá-la em sua fé no Messias. Essas leis apontavam para a vinda do Messias. Todavia, por serem tipológicos por natureza, cercados de símbolos e sinais que focavam a obra do Messias, a vinda deste pôs fim a esses rituais. Com a vinda de Cristo, as leis rituais perderam a sua validade, deixaram de ser obrigatórias para o povo da nova aliança.
Os autores do Antigo Testamento sabiam que as leis rituais ou cerimoniais apontavam para uma realidade maior (cf. Sl 51:16-19; Os 6:6-7; Is 1:11; Jr 7:22-23; Mq 6:6-8). No Novo Testamento, elas são chamadas de “sombras” (Cl 2:17; Hb 8:5; 10:1). Por essa razão, o ensino do Novo Testamento sobre elas é claro: não são mais obrigatórias para a igreja. Essa verdade pode ser vista em Efésios, em que lemos que, em seu corpo, Jesus desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças (Ef 2:14-15 – grifo nosso). A lei mencionada aqui é a dos rituais. A frase “mandamentos contidos em ordenanças” aponta nesse sentido. É importante ressaltarmos que, apesar das leis cerimoniais terem sido abolidas, isto não significa que elas não têm nenhum valor para os crentes. O uso delas foi abolido, mas como apontavam para Cristo, retêm importância como uma ferramenta de ensino para melhor entender a sua obra. 
Em terceiro lugar, temos a lei moral. A lei moral de Deus é aquela que estabelece o padrão de conduta para todos os homens e em todos os lugares; revela, de forma muito evidente, a vontade de Deus, em termos de caráter e procedimento. A lei moral é um reflexo da natureza e do caráter do próprio Deus. Sendo assim, é universal, indispensável e válida para todos os homens, de todas as épocas e lugares; é imutável. Onde podemos encontrá-la? Nos dez mandamentos (Êx 20:1-17). Elas prescrevem como deve ser o nosso relacionamento com Deus: não terás outros deuses diante de mim (v. 3), não farás para ti imagem de escultura (v. 4a), não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão (v. 7a), lembra-te do sábado, para o santificar (v. 8); e com o próximo: honra teu pai e tua mãe (v. 12a), não matarás (v. 13), não adulterarás (v. 14), não furtarás (v. 15), não dirás falso testemunho (v. 16) e não cobiçarás (v. 17a).      
A lei moral foi dada em um contexto de graça, para um povo já liberto (Ex 20:2), que não fora escolhido sem propósito. Israel foi alcançado para ser um povo santo (Dt 7:6; 14:2, 21) e os mandamentos serviriam para orientá-los nessa missão.  A lei moral é a regra de vida dos redimidos. Ela nunca teve por objetivo trazer salvação, mas contribuir no processo de santificação. Foram dadas para que os filhos de Deus soubessem qual era a sua vontade e pudessem andar de acordo com a mesma. 
Assim como a civil e a ritual, a lei moral foi dada por Deus (Êx 20:1). No caso da lei moral, a vinda de Cristo não a anula, nem a remove. A validade dos dez mandamentos é contínua e a sua aplicação é universal. Jesus, ao se referir a lei moral disse: Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para cumpri-los. (Mt 5:17 – grifo nosso). Em Romanos também lemos: Anulamos então a Lei pela fé? De maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a lei (Rm 3:31). Então, entre as três categorias de lei, a única que permanece é a moral.

PARA REFLETIR

01. O que significa a palavra “lei”? Quantas categorias de leis existem na Bíblia?

02. Fale sobre a única categoria de leis que continuam vigentes?



[1] Meister (2003:45).